Segundo família, paciente sofreu danos motores e neurológicos permanentes. Decisão sai mais de 15 anos após procedimento e também determina pensão vitalícia. Defesa diz que vai recorrer.
A Justiça condenou uma clínica e um anestesista a pagar indenização de R$ 600 mil para uma paciente ficou inválida devido com sequelas graves e permanentes após uma cirurgia plástica, em Jataí, região sudoeste de Goiás. Além disso, também foi determinado que a mulher receba uma pensão mensal vitalícia, retroativa à data do procedimento, no valor de um salário mínimo. A decisão saiu após mais de 15 anos da realização do procedimento.
A defesa dos réus, a Clínica e Maternidade Santa Clara e o anestesista Aldo Muller Júnior, disse que eles são inocentes, que vai recorrer da decisão e que os culpados pelo que ocorreu são os parentes de paciente, que demoraram a pedir por socorro ao ver que ela estava sem respirar.
A dentista Cynthia Maria Rezende Naufal tinha 40 anos quando, em junho de 2003, resolveu passar por uma cirurgia plástica reparadora de mama e abdômen. Após quase 7h, ela deixou foi levada para o apartamento. A família, ao visitá-la, notou que ela estava sem sinais vitais.
Segundo consta na sentença, proferida pelo juiz Thiago Soares Castelliano Lucena de Castro, os médicos indicaram ao marido de Cynthia, Nagib Naufal, que a encaminhasse em uma UTI aérea para Goiânia. Mesmo após a realização do procedimento, os danos foram irreversíveis.
“Ela teve comprometimento motor de todos os membros, tanto de pernas, braços e mão. E teve comprometimento neurológico grave. Ela não tem noção do que está acontecendo com ela”, afirmou Nagib.
Nos autos, constam que, ao perceberem que a mulher estava pálida, com “aspecto cadavérico” e “gelada”, procuraram uma enfermeira, que inicialmente afirmou ser um quadro normal, mas depois, devido à grande insistência, foi ao local, viu a situação da paciente e foi ” aos berros a procura de socorro em evidente demonstração de despreparo”.
Fotos da família mostram como era Cynthia antes da cirurgia e como ela está atualmente. Hoje com 56 anos, precisa de acompanhamento integral de cuidadoras. Mãe de quatro filhos, ela deixou de acompanhar o crescimento deles por conta das sequelas.
“Ela perdeu a convivência com os quatro filhos, perdeu convivência comigo e hoje ela é totalmente dependente. Não tem dinheiro que pague uma vida, todo sofrimento dela, sofrimento da minha família”, desabafa o marido.
Cirurgia
Em seu despacho, o magistrado destacou que o fato da clínica não possuir um médico plantonista no momento da cirurgia vai contra os princípios que constam no Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego).
“A ausência de médico plantonista era o defeito mais grave apresentado, seja porque havia previsão do Conselho Regional, seja porque realizava cirurgia estética e outros procedimentos cirúrgicos que necessitam de internação posterior”, explica no texto.
Da mesma forma, ele salienta que não havia um enfermeiro na unidade e que tal situação era “imprescindível”. O juiz ponderou também que a clínica não possuía uma sala de recuperação pós-anestésica. Tal situação ocasionou a interdição de áreas do estabelecimento.
“As irregularidades presentes à época em que a autora foi submetida ao tratamento cirúrgico eram muitas, o que ensejou no encerramento das atividades do bloco cirúrgica e interdição da central de material esterilizado”, pontua.
O juiz também isentou de culpa o cirurgião plástico que realizou o procedimento por entender que “o ato cirúrgico transcorreu sem intercorrência” e que todas suas funções foram “exercidas corretamente”.
O G1 entrou em contato com o Cremego, por email, às 10h08 desta segunda-feira (18) e aguarda retorno.
Defesa
A advogada Hildegard Taggessel Giostri, que representa tanto a clínica quando o anestesista, disse que seus clientes não são responsáveis pelo caso e que vai entrar com recurso. Ela inclusive, culpou os parentes da paciente pelo que ocorreu.
“Ali, se alguém tem culpa é o marido e a cunhada, irmã da moça, que ficaram os dois no quarto depois dela já ter saído da cirurgia, já ter tido alta da anestesia. Sempre pede que alguém fique no acompanhamento. Só foram ver que ela tinha parado de respirar quando o pai dela chegou. O pai é que viu. Veja quem são os responsáveis. Aí o dano já estava feito”, destaca.
A advogada afirmou que a clínica é “muito bem conceituada” e que “estava com tudo correto”. Segundo ela, o que ocorreu com Cynthia é algo que “podia acontecer”.